segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Exorcismo

De manhã ainda meio zureta / com rímel até a buchecha / lutando pra tentar me lembrar / Do que eu fiz a noite passada / se foi tudo ou quase nada / além das tequilas no bar (...) / Só lembro com exatidão / o copo, sal, limão / E depois meu trapézio no ar

Há muito venho tentando. Lutando comigo mesmo. Calejando não só as mãos. Paro de frente do espelho e me encaro. Sigo em frente. Finjo não ouvir, não ver e não ler. Não é comigo, não. Finjo. Apenas finjo. Escondo-me. Na tentativa de fugir de você. E sabe? Cansei. Há muito. Cada dia mais.

Aquela noite, mais uma vez eu desejei ter você por perto. Desejei ouvir sua voz e olhar no seu olho. E decidi também que seria a última. Cerrei os olhos e bastou. Entendi que, na tentativa vã de fuga, me perco cada vez mais de mim. Acabo remando para o lado errado do rio. Correntes me prendem a você.

Resolvi, então, apelar: para a paciência e boa vontade daqueles que estavam comigo. Apelei para a branca e para a amarela. Elas, só elas. Mandei o resto para a casa do caralho: maquiagem, cabelo, vestido e salto. Estava acabada e era assim que queria ficar. Pela última vez.

Sangrei. Chorei. Coloquei pra fora o asco, as tripas e o coração. Depois, ainda com dor, eu ri. Dei risada. Disse tchau. Sai desse corpo que não te pertence. E fui embora de você para nunca mais voltar.

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