terça-feira, 30 de julho de 2013

Falta Paz


Lágrimas frias escorrem pelo rosto
Feito rio, deságua na boca
De gosto salgado. 
Amargo gosto de fel. 

Um aperto que não cabe no peito
Que transborda nos olhos.

De tão imenso, sufoca. 
Tira o ar e o sossego
Deixa a angústia. 

Falta falta paz, nada mais. 

A cabeça que gira e gira
Feito um carrossel. 
Roda Gigante, roda de papel. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Platônico


Qualquer semelhança é mera realidade. Ou quase isso. 


Lembro da primeira vez que você me olhou, de cima do palco. Eu estava na quinta fileira, com o olhar derretido. Fazia coraçãozinho com as mãos. Naquela época, isso não era mico. Tentava de alguma maneira chamar sua atenção. Deu certo! Quando o seu olhar encontrou o meu, quase não acreditei.

Teve também a nossa primeira foto juntos, você lembra? Eu estava de cabelo curto e vermelho, marcas típicas da rebeldia adolescente. Com o blusão do colégio. Te esperava na frente do prédio. Já você vestia uma camisa xadrez, quadriculada, em tons de vermelho e azul. Te abracei e pedi para alguém bater aquela que seria a nossa primeira fotografia juntos. A máquina, emprestada, ainda era analógica. Passei dias agoniantes esperando o filme ser revelado.  

Não tem como esquecer do primeiro oi, o primeiro abraço, o primeiro riso e aquele choro de tristeza. Aquele aniversário, o encontro no aeroporto, a despedida. Naquela época era tudo muito definitivo, exacerbado. A felicidade e a tristeza pareciam para sempre: a inocência da juventude. A passagem da infância para a adolescência. A descoberta das novas sensações. A gente nunca se dá conta, né?

Inclusive, descobri o que era tesão com você, sabia?

Não lembro exatamente o mês. Outubro. Setembro, talvez. Eu desviei meu caminho e passei para te ver ensaiar. Era final de tarde, mas fazia calor. Você estava saindo e parou para falar comigo e com as outras pessoas que estavam por ali. Na primeira oportunidade, pedi uma foto e fui te abraçando pela cintura. Você me imitou no gesto.

Escorregou sua mão direita de uma ponta a outra, pela minhas costas. Eu senti um arrepio forte, um calor. Te olhei meio de lado, sem entender, com a maior cara de #aimeudeusdoceuoqueéisso. No instante em que o flash foi disparado. Você se despediu e seguiu seu caminho. Eu fiquei ali parada e de pernas bambas.

**

Depois daquele fatídico anúncio, decidi colocá-lo dentro de uma caixinha, na última prateleira do guarda-roupa, junto com todas as minhas fotos, revistas e posteres. Como a vida pedia, transferi os sonhos para a carreira, trabalho e faculdade. Você também parecia cansado daquela vida. Tanto é que sumiu dos palcos e do mundo dos holofotes.

Confesso, não foi tão difícil quanto eu achei que seria. Chorei no dia 11 e depois no dia 18. Me apaguei as fotos, revivi os videos e todos aqueles momentos. Me questionei o porquê daquela decisão várias vezes. E por muitas outras quis voltar atrás, quis que você voltasse atrás. Mas, depois passou. A menina, quase mulher, estava pronta para viver as novas possibilidades que se apresentavam. Corpo e mente foram em busca de sensações mais reais.

Mudei, mas jamais deixei de me apaixonar: a cor de um olho, um corte de cabelo, pela barba mal feita do menino do metrô, pelos dentes brancos e a voz leve daquele professor. Coisas da cabecinha leve de quem gosta de amar, de quem gosta do amor.

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Descobri, há uma semana que meu ex-namorado está noivo, voltou com a ex e está noivo. Talvez ele compre alianças caras e viaje para Paris. E, apesar de achar que ele está fazendo errado, não fiquei mal. Afinal, fui eu quem não aguentou e sucumbiu ao sufoco do amor.

Ontem descobri que você ficou noivo nos Estados Unidos. Vi fotos de vocês juntos e me pareceram tão felizes. As fotos são lindas. Ela também. Você eu nem comento. Sabe, parece que essa é mesmo a coisa certa a ser feita. Mas, meu coração apertou.

Tive, mais uma vez, que me despedir daquelas fantasias que estavam guardadas. Matar um pouco mais a menina que ainda teima em viver aqui dentro. Dei de cara com o mundo real, de novo. E compreendi, que talvez, eu seja feita para viver os amores impossíveis e que com os possíveis eu só me divirto, assim sem compromisso.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Versão 2.0


daquelas coisas que são para sempre. 


O telefone tocou. Eu demorei para chegar. Você estava com frio. Era de madrugada, mais manhã do que noite, é verdade. Seu olhar era firme, os braços estavam cruzados junto ao corpo. Eu, meio sem graça, sorria. Aquele riso de canto de canto de boca, de quem acabou de aprontar. 

Durante o longo trajeto até a sua casa, o silêncio prevaleceu. Aquela velha sensação de 'ferrou' foi tomando conta de mim. Olhava pela janela do ônibus e, apesar de não reconhecer o lugar, me sentia em casa. Já estava acostumada com a paisagem, com os carros loucos e com o som do 's' puxado. Na verdade, sempre me senti em casa perto de você. 

Incomoda era a sensação de não saber o que esperar ou de como começar. O que dizer ou como explicar. Ainda calada, de vez em sempre te fitava. Numa tentativa inútil de decifrar seus pensamentos. Será que o cansaço do corpo, que pedia descanso, me livraria daquela situação? Com o caminho cada vez mais curto, talvez o silêncio fosse mesmo a melhor solução: poderíamos apenas chegar e dormir. 

Ou não. 

Obviamente, não consegui escapar do seu interrogatório e daquele seu olhar de 'por que você faz essas coisas?' que me deixa desconcertada, sem saber o que responder. Mas, para a minha surpresa, foi tudo calmo, tranquilo, sereno, com ares de experiências adquiridas, que me deixou surpresa. Não na hora, mas depois.

Depois de arrumarmos as camas, deitamos e você pediu com jeitinho: "O que aconteceu? Me conta!". Eu sorri um riso tímido e me achei boba por achar que escaparia daquela pergunta. Entre dentes e meio baixo, evitando seu olhar, respondi sem dar detalhes. Você sorriu de volta e foi perguntando ponto a ponto. Enquanto eu falava, você balançava a cabeça negativamente. "Ei, não me olha assim!", pedi. 

Não notei na hora, mas você estava me sacaneando. De leve, mas estava. Tanto é que perguntou se eu estava satisfeita com o resultado, com outras palavras, é claro! Eu esperava uma bronca que não veio, uma reação mais enérgica e a constatação de que eu estava fazendo tudo errado. Afinal, instinto protetor é o seu segundo nome. 

Quando o assunto terminou, ganhei cafuné e um beijo de boa noite. Adormeci feliz e assim que acordei  me dei conta de que você não era você. Quer dizer, era mas não era. Entendi, ainda deitada, te olhando dormir de que eu estava conhecendo sua versão atualizada. Adulta e consciente de que coisas assim acontecem, mesmo não sendo o ideal. 

E estava tudo bem. Então, sorri mais uma vez.