segunda-feira, 10 de maio de 2010

Somos de dois tipos

Óculos escuros no rosto. Mochila nas costas. Fone no ouvido. Vou andando pela rua com cara de má e cheia de pensamentos vãos. No ponto de ônibus, no meio do vai e vem dos carros e das pessoas, entendo que na vida há dois tipos de pessoas: as constantes e as esporádicas.


Todos os dias, quando eu chego, a moça loira já está no seu lugar de costume. Parada perto da pilastra, cabelos soltos, óculos de sol, bolsa marrom no ombro esquerdo e quase nunca com um sorriso. Parece ficar mais sisuda quando me vê. Penso que não gosta de mim. Eu, ao contrário, encontro nela algo familiar.


Será que seu nome é Silvia? Tenho uma amiga loira com esse nome. Mora longe e não faz questão de ser simpática aos quatro ventos. Mas, caso eu precise, sei onde encontrá-la. Ela vai estar sempre parada no mesmo lugar, me esperando e se fazendo constante na minha vida.


Ao contrário do menino das segundas feiras, que sempre passa correndo por mim, quase todas as segundas feiras do mês. Às vezes quinta. Outras vezes passo semanas sem o ver. Moreno, de cabelo escuro e arrepiado, usa uniforme escolar. Passa por mim enquanto atravesso a rua. Quase consigo vê-lo sorrir.


É esporádico. Assim como eram os ‘bons dias’ do meu ex-namorado, às sete da manhã, antes de ir trabalhar. Ou como o menino da balada no final de semana passado. Só as segundas, só as sextas, quase nunca ou sempre.


A música do mp3 parou, será que foi a pilha? Será que é o eco dos meus devaneios? O ônibus chegou e, eu já subindo as escadas que me levam à catraca, tento listar mentalmente quem, além daquelas pessoas matinais, são constantes e esporádicos na minha vida.


Mamãe, papai, irmão. Constantes. Aquela amiga do colégio, a outra que gosta da mesma banda que eu. A Renata, que mudou de país, ta estudando fora. Esporádicas. Eram esporádicos e passaram a constantes, os novos amigos.


Mas, e eu? Sou esporádica a quem me é constante? Não sei. E se for? E daí? Esporádicos têm a sua importância, assim como os constantes. Um não exclui o outro. O constante pode passar a inconstante e vice-versa. A felicidade esporádica. Tristeza constante? Somos dúbios, não há bom ou ruim. E assim a vida segue.


* Crônica feita ( e entregue ) para a professora de Português Nanami Sato.

sábado, 1 de maio de 2010

Tudo e nada

Tentativa frustrada mais uma vez. Eu não consigo, mas juro que eu tento. Às vezes mais, às vezes menos. Mas, eu tento. Olho, gosto, beijo, abraço e até falo coisas bonitinhas. Em casos extremos até passo o número do telefone. E se de repente ele toca, para continuar tentando, digo sim. Se ele não tocar, tudo bem. Eu sabia que seria assim mesmo. Tentativa frustrada dele, talvez.


Eu digo sim, um novo encontro. Coisas fofas. Eu sorrio e faço sorrir. Ganho um cigarro, um beijo. Retribuo em palavras sem verdades. Não, eu não minto. Mas, é que nessa hora a luz vermelha de emergência aciona dentro do meu cérebro, então, ele toma a frente, é a sua vez. É sempre assim. Às vezes, ela falha, o coração luta e têm-se outras saídas, novos momentos.


Injeção contra dor, morfina pro coração. Foi bom para você? Se divertiu também? Obrigada por me fazer feliz hoje. Até outro dia, até nunca mais. Um dia depois o outro. Não é o que dizem? A felicidade não existe, o que existem são momentos felizes.


Ideologia de vida. E não venham me chamar de fria. Eu não sou. Só tenho preguiça do amor, só tenho medo da dor. Porque quando eu quero, quero por completo. Porque mesmo mulher, sou menina e cresci acreditando em contos de fadas e se não for para sempre o meu final não vai ser feliz. Frustração mais uma vez.