Aperto no coração. Faz uma semana que me despedi. Eu sabia que as coisas não seriam fáceis, mas também não imaginei que me incomodaria tanto. Tive tempo de amadurecer a ideia. Chorei antes, quando fui me despedindo aos poucos, mas era um choro de uma saudade que ainda não tinha sentido. Chorei durante, ao guardar todas aquelas coisas e olhar para o quarto totalmente vazio, sem resquícios meus. Chorei um dia depois, para tentar colocar pra fora toda a insegurança que o momento traz consigo. Mas, nenhum desses choros foram doloridos. E as coisas acontecem aos poucos. Na segunda seguinte passei pra visitar e na sexta resolvi esticar a diária. E, confesso, nada de dor. Óbvio, um incomodo, um estranhamento e a dúvida de estar ou não fazendo a coisa certa. O questionamento, quase que filosofal, de por que as coisas tem que serem assim, mais difíceis? Mas, nada fora do normal. E até me surpreendi com a minha força de vontade. Estava indo bem, melhor do que esperava, melhor do que todos esperavam. Até hoje, enfim.
Hoje foi diferente. Um domingo tão bom. Cheio de gordices, risadas e boas companhias. Só que veio a vontade de fazer xixi. Estava aí por perto e resolvi arriscar. Tudo como sempre, a sala, a televisão, o sofá... a cozinha e o corredor. Apenas uma coisa mudou. Aquelas coisas que habitavam o quarto não eram as minhas. Olhei e não reconheci. No caminho de volta, olhei a sala e minha bandeira já não estava mais ali, o porta chaves também estava vazio. Que coisa, não saberia definir o momento. Apenas abri a porta, desci no elevador e peguei o carro. Enquanto o rádio cantava, a estrada me distraia. E só fui perceber o estrago que o xixi causou depois de encostar a cabeça no travesseiro para tentar dormir. Não consegui, mais do que incomodo, o que eu sinto agora vai além. Dói. Sufoca.
Olho para o lado e as distâncias estão maiores. No chão, à minha frente, as roupas estão jogadas em meio as malas semi-abertas. Uma bagunça. Assim pode-se definir a minha vida. Uma bagunça cada vez mais bagunçada. A sensação é a de não pertencer a esse lugar e a de não ter tempo para pertencer aos outros. Foram seis meses lindos, com seus problemas e preocupações, mas de muito riso e companheirismo. Durante esse tempo, eu me sentia livre e ao mesmo tempo cuidada, querida. Podia estar sozinha e podia não estar, em questão de segundos. Bastava uma porta, alguns passos. Ali o sentimento era pleno, havia vontade de lutar, de tentar fazer dar certo, de ir em frente. E agora?
Eu sei que nada é pra sempre. E aprendi, que os dramas de nada adiantam. Só atrapalham ainda mais. Agora não adianta chorar, mesmo por que, nesse momento, as lágrimas estão presas, não caem. Sufocam-me a entrada da garganta, fazendo, assim, com que vez ou outra eu perca um pouco do ar e tenha que fechar os olhos fortes para me recompor. Acho também que há um pouco de medo. O medo de ser substituída, esquecida. A cada pensamento uma pontada, uma dor. E, enquanto as lágrimas não vem e os pensamentos não me deixam dormir, as palavras se tornam minhas companhias. Quem sabe assim, tentando racionalizar o irracionalizável, uma pedra não saia do caminho? A questão é que eu sempre tive problemas para dizer tchau.