domingo, 7 de agosto de 2011

Tchau







Aperto no coração. Faz uma semana que me despedi. Eu sabia que as coisas não seriam fáceis, mas também não imaginei que me incomodaria tanto. Tive tempo de amadurecer a ideia. Chorei antes, quando fui me despedindo aos poucos, mas era um choro de uma saudade que ainda não tinha sentido. Chorei durante, ao guardar todas aquelas coisas e olhar para o quarto totalmente vazio, sem resquícios meus. Chorei um dia depois, para tentar colocar pra fora toda a insegurança que o momento traz consigo. Mas, nenhum desses choros foram doloridos. E as coisas acontecem aos poucos. Na segunda seguinte passei pra visitar e na sexta resolvi esticar a diária. E, confesso, nada de dor. Óbvio, um incomodo, um estranhamento e a dúvida de estar ou não fazendo a coisa certa. O questionamento, quase que filosofal, de por que as coisas tem que serem assim, mais difíceis? Mas, nada fora do normal. E até me surpreendi com a minha força de vontade. Estava indo bem, melhor do que esperava, melhor do que todos esperavam. Até hoje, enfim.

Hoje foi diferente. Um domingo tão bom. Cheio de gordices, risadas e boas companhias. Só que veio a vontade de fazer xixi. Estava aí por perto e resolvi arriscar. Tudo como sempre, a sala, a televisão, o sofá... a cozinha e o corredor. Apenas uma coisa mudou. Aquelas coisas que habitavam o quarto não eram as minhas. Olhei e não reconheci. No caminho de volta, olhei a sala e minha bandeira já não estava mais ali, o porta chaves também estava vazio. Que coisa, não saberia definir o momento. Apenas abri a porta, desci no elevador e peguei o carro. Enquanto o rádio cantava, a estrada me distraia. E só fui perceber o estrago que o xixi causou depois de encostar a cabeça no travesseiro para tentar dormir. Não consegui, mais do que incomodo, o que eu sinto agora vai além. Dói. Sufoca.

Olho para o lado e as distâncias estão maiores. No chão, à minha frente, as roupas estão jogadas em meio as malas semi-abertas. Uma bagunça. Assim pode-se definir a minha vida. Uma bagunça cada vez mais bagunçada. A sensação é a de não pertencer a esse lugar e a de não ter tempo para pertencer aos outros. Foram seis meses lindos, com seus problemas e preocupações, mas de muito riso e companheirismo. Durante esse tempo, eu me sentia livre e ao mesmo tempo cuidada, querida. Podia estar sozinha e podia não estar, em questão de segundos. Bastava uma porta, alguns passos. Ali o sentimento era pleno, havia vontade de lutar, de tentar fazer dar certo, de ir em frente. E agora?

Eu sei que nada é pra sempre. E aprendi, que os dramas de nada adiantam. Só atrapalham ainda mais. Agora não adianta chorar, mesmo por que, nesse momento, as lágrimas estão presas, não caem. Sufocam-me a entrada da garganta, fazendo, assim, com que vez ou outra eu perca um pouco do ar e tenha que fechar os olhos fortes para me recompor. Acho também que há um pouco de medo. O medo de ser substituída, esquecida. A cada pensamento uma pontada, uma dor. E, enquanto as lágrimas não vem e os pensamentos não me deixam dormir, as palavras se tornam minhas companhias. Quem sabe assim, tentando racionalizar o irracionalizável, uma pedra não saia do caminho? A questão é que eu sempre tive problemas para dizer tchau.