segunda-feira, 15 de julho de 2013

Versão 2.0


daquelas coisas que são para sempre. 


O telefone tocou. Eu demorei para chegar. Você estava com frio. Era de madrugada, mais manhã do que noite, é verdade. Seu olhar era firme, os braços estavam cruzados junto ao corpo. Eu, meio sem graça, sorria. Aquele riso de canto de canto de boca, de quem acabou de aprontar. 

Durante o longo trajeto até a sua casa, o silêncio prevaleceu. Aquela velha sensação de 'ferrou' foi tomando conta de mim. Olhava pela janela do ônibus e, apesar de não reconhecer o lugar, me sentia em casa. Já estava acostumada com a paisagem, com os carros loucos e com o som do 's' puxado. Na verdade, sempre me senti em casa perto de você. 

Incomoda era a sensação de não saber o que esperar ou de como começar. O que dizer ou como explicar. Ainda calada, de vez em sempre te fitava. Numa tentativa inútil de decifrar seus pensamentos. Será que o cansaço do corpo, que pedia descanso, me livraria daquela situação? Com o caminho cada vez mais curto, talvez o silêncio fosse mesmo a melhor solução: poderíamos apenas chegar e dormir. 

Ou não. 

Obviamente, não consegui escapar do seu interrogatório e daquele seu olhar de 'por que você faz essas coisas?' que me deixa desconcertada, sem saber o que responder. Mas, para a minha surpresa, foi tudo calmo, tranquilo, sereno, com ares de experiências adquiridas, que me deixou surpresa. Não na hora, mas depois.

Depois de arrumarmos as camas, deitamos e você pediu com jeitinho: "O que aconteceu? Me conta!". Eu sorri um riso tímido e me achei boba por achar que escaparia daquela pergunta. Entre dentes e meio baixo, evitando seu olhar, respondi sem dar detalhes. Você sorriu de volta e foi perguntando ponto a ponto. Enquanto eu falava, você balançava a cabeça negativamente. "Ei, não me olha assim!", pedi. 

Não notei na hora, mas você estava me sacaneando. De leve, mas estava. Tanto é que perguntou se eu estava satisfeita com o resultado, com outras palavras, é claro! Eu esperava uma bronca que não veio, uma reação mais enérgica e a constatação de que eu estava fazendo tudo errado. Afinal, instinto protetor é o seu segundo nome. 

Quando o assunto terminou, ganhei cafuné e um beijo de boa noite. Adormeci feliz e assim que acordei  me dei conta de que você não era você. Quer dizer, era mas não era. Entendi, ainda deitada, te olhando dormir de que eu estava conhecendo sua versão atualizada. Adulta e consciente de que coisas assim acontecem, mesmo não sendo o ideal. 

E estava tudo bem. Então, sorri mais uma vez. 



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