quarta-feira, 24 de julho de 2013

Platônico


Qualquer semelhança é mera realidade. Ou quase isso. 


Lembro da primeira vez que você me olhou, de cima do palco. Eu estava na quinta fileira, com o olhar derretido. Fazia coraçãozinho com as mãos. Naquela época, isso não era mico. Tentava de alguma maneira chamar sua atenção. Deu certo! Quando o seu olhar encontrou o meu, quase não acreditei.

Teve também a nossa primeira foto juntos, você lembra? Eu estava de cabelo curto e vermelho, marcas típicas da rebeldia adolescente. Com o blusão do colégio. Te esperava na frente do prédio. Já você vestia uma camisa xadrez, quadriculada, em tons de vermelho e azul. Te abracei e pedi para alguém bater aquela que seria a nossa primeira fotografia juntos. A máquina, emprestada, ainda era analógica. Passei dias agoniantes esperando o filme ser revelado.  

Não tem como esquecer do primeiro oi, o primeiro abraço, o primeiro riso e aquele choro de tristeza. Aquele aniversário, o encontro no aeroporto, a despedida. Naquela época era tudo muito definitivo, exacerbado. A felicidade e a tristeza pareciam para sempre: a inocência da juventude. A passagem da infância para a adolescência. A descoberta das novas sensações. A gente nunca se dá conta, né?

Inclusive, descobri o que era tesão com você, sabia?

Não lembro exatamente o mês. Outubro. Setembro, talvez. Eu desviei meu caminho e passei para te ver ensaiar. Era final de tarde, mas fazia calor. Você estava saindo e parou para falar comigo e com as outras pessoas que estavam por ali. Na primeira oportunidade, pedi uma foto e fui te abraçando pela cintura. Você me imitou no gesto.

Escorregou sua mão direita de uma ponta a outra, pela minhas costas. Eu senti um arrepio forte, um calor. Te olhei meio de lado, sem entender, com a maior cara de #aimeudeusdoceuoqueéisso. No instante em que o flash foi disparado. Você se despediu e seguiu seu caminho. Eu fiquei ali parada e de pernas bambas.

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Depois daquele fatídico anúncio, decidi colocá-lo dentro de uma caixinha, na última prateleira do guarda-roupa, junto com todas as minhas fotos, revistas e posteres. Como a vida pedia, transferi os sonhos para a carreira, trabalho e faculdade. Você também parecia cansado daquela vida. Tanto é que sumiu dos palcos e do mundo dos holofotes.

Confesso, não foi tão difícil quanto eu achei que seria. Chorei no dia 11 e depois no dia 18. Me apaguei as fotos, revivi os videos e todos aqueles momentos. Me questionei o porquê daquela decisão várias vezes. E por muitas outras quis voltar atrás, quis que você voltasse atrás. Mas, depois passou. A menina, quase mulher, estava pronta para viver as novas possibilidades que se apresentavam. Corpo e mente foram em busca de sensações mais reais.

Mudei, mas jamais deixei de me apaixonar: a cor de um olho, um corte de cabelo, pela barba mal feita do menino do metrô, pelos dentes brancos e a voz leve daquele professor. Coisas da cabecinha leve de quem gosta de amar, de quem gosta do amor.

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Descobri, há uma semana que meu ex-namorado está noivo, voltou com a ex e está noivo. Talvez ele compre alianças caras e viaje para Paris. E, apesar de achar que ele está fazendo errado, não fiquei mal. Afinal, fui eu quem não aguentou e sucumbiu ao sufoco do amor.

Ontem descobri que você ficou noivo nos Estados Unidos. Vi fotos de vocês juntos e me pareceram tão felizes. As fotos são lindas. Ela também. Você eu nem comento. Sabe, parece que essa é mesmo a coisa certa a ser feita. Mas, meu coração apertou.

Tive, mais uma vez, que me despedir daquelas fantasias que estavam guardadas. Matar um pouco mais a menina que ainda teima em viver aqui dentro. Dei de cara com o mundo real, de novo. E compreendi, que talvez, eu seja feita para viver os amores impossíveis e que com os possíveis eu só me divirto, assim sem compromisso.


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