Lembro com perfeição daquela
madrugada do dia 13 de outubro. Já era tarde quando a mamãe me acordou pedindo
o telefone da tia Fátima. Naquela época, a tia trabalhava no hospital. Eu
acordei assustada, perguntei se estava tudo bem e, com um olho aberto e outro
fechado, disquei os números, que hoje me fogem da memória.
Mamãe estava com dores e nós
fomos para o hospital. Por três vezes repetimos o mesmo trajeto e da última vez
ficamos. Eu não saberia dizer quem estava mais nervoso, ansioso: papai ou eu.
Mas, lembro de querer estar perto de vocês o tempo todo.
Você não deve saber, mas a mulher
quando está grávida e perto de ganhar o bebê sente muitas dores, são as
chamadas contrações. Era o que a mamãe estava sentido. Eu tinha 13 anos, dois a
mais do que você tem hoje, e sabia disso tudo. Ainda assim, não aguentei.
Estava preocupada, queria que tudo desse certo. Deixei a mamãe com o papai no
quarto e fui para a porta do hospital chorar.
Já era de manhã quando a mamãe
entrou na sala de parto. Papai entrou logo atrás - não sei se ele já te contou,
mas ele assistiu o seu nascimento. Eu fiquei sozinha. Andando de um lado para o
outro, jogando o relógio pra cima, tentando fazer o tempo passar. Foi
angustiante. Sabe quando você tem que esperar muito por uma coisa e quanto mais
perto chega, mais ansioso você fica? Então, era mais ou menos isso que eu
estava sentindo.
Meu coração batia rápido. Eu estava
sentada na sala de espera quando a enfermeira levou você para o berçário. Você nasceu às seis horas da manhã do dia 14
de outubro. E naquele momento em que eu te olhei pela primeira vez, entendi que
minha vida iria mudar para sempre. Ali, eu prometi que seria a melhor irmã do
mundo. Mesmo sem saber o que isso significava.
Aprendi com o tempo. Com os
primeiros passos, as primeiras palavras, com as várias escolas e as lições de
casa. Teve também a primeira recuperação, o primeiro dente a cair, a primeira
camisa do time de futebol, o primeiro amistoso, a primeira vez no estádio. Sem
esquecer dos primeiros conselhos, das dúvidas intermináveis e as primeiras
perguntas capciosas.
Para falar a verdade, aprendo até
hoje com os seus abraços, seus sorrisos e anseios de maturidade. Aprendo quando
você me pede para ir no seu colégio ou para ser técnica do seu time do futebol.
E até mesmo quando você diz, assim, meio sem saber, que quer ser jornalista
também.
“Fica tranquila, Gá! Você é ótima jornalista, vai dar tudo certo”,
você me disse recentemente. E ali percebi que falhei. Que não vou conseguir
cumprir a promessa feita 11 anos atrás. Por que você é quem o melhor irmão do
mundo.
Feliz aniversário, pequeno! Eu te amo muito!
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