sexta-feira, 8 de abril de 2011

Elefante, o código de Hamurabi

Um dia antes da tragédia no Rio de Janeiro, discutimos em sala o filme Elefante, depois de escrever um ensaio sobre o mesmo. Reproduzo aqui, o meu texto.

Elefante, o código de Hamurabi

Falar sobre bullying não é nada fácil, afinal, como a prática acontece mais comumente entre
crianças, é difícil distinguir o que é brincadeira e o que não é. Pior ainda é saber o quanto isso,
somado a fatores externos, mexe com a personalidade daquele que é tido como vítima.

A verdade é que ninguém é perfeito, entretanto existem aqueles que não sabem conviver com
as diferenças, sejam elas físicas ou intelectuais. Indo além, às vezes é difícil aceitar as próprias
limitações. Não se encaixar no que se é pré-estabelecido, realmente fere.

Dói ser desajeitado e não o mais bonito. Dói ser o nerd, sabe tudo, e só ter os livros como
companhia. Não ter amigos, namoradas, não ser popular ou ter espinhas na cara. Tudo isso
dói. Assim como andar meio torto, pensar de outra maneira, falar enrolado. Dói, machuca, fere
e nunca, nunca se esquece.

Por vezes, pode chegar a matar. O dia parecia normal, adolescentes conversavam entre os
corredores, outros namoravam, outros não faziam nada. Até que dois estudantes, com trajes
camuflados, malas e mochilas e munidos de metralhadoras semi-automáticas invadem o
Instituto Colombine e, antes de se matarem, matam todos os presentes.

Elefante retrata a normalidade com que a tragédia aconteceu. A superficialidade, a crueldade,
a frieza e a falsidade eram constantes por ali. São normais dentro dos colégios e entre a
juventude. Despretensiosamente, ou não, nos leva a questionamentos mais densos sobre
a segurança dentro das escolas, o papel dos pais dentro a educação, a importância de um
profissional de psicologia no ambiente de estudo.

Mais que isso, mostra o quanto somos vulneráveis. Como o ditado popular bem diz “tem
memória de elefante”. É isso, preferimos guardar as coisas ruins às boas. Nada daquilo foi
esquecido e merece ser vingado. São os tempos antigos dentro da contemporaneidade. Olho
por olho, dente por dente.

Dor só se paga com dor. Ele não esqueceu. Você, possivelmente, também não. A tragédia não
foi esquecida. O sorriso no rosto do protagonista ao matar aluno por aluno também não deve
ser.


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