sábado, 2 de fevereiro de 2008

"Conto de fadas"

"As vezes se eu me distraio, se eu não me vigio um instante me transporto pra perto de você. Já vi que não posso ficar tão solta que vem logo aquele cheiro que passa de você pra mim, num fluxo perfeito. Enquanto você conversa e me beija, ao mesmo tempo eu vejo as suas cores no seu olho tão de perto."

Aquela tarde.

O tempo está frio lá fora. O céu é cinzento e o vento sopra constantemente. A casa está vazia, o filme vai passando na TV, o cachorro late no portão.

O celular vibra, ela está a caminho. Passa no banheiro, encara-se frente a frente ao espelho. Inspira. Inspira, tentando buscar confiança.

A mão começa a suar frio, as pernas ficam impacientes, está, de fato, ansioso. Talvez não seja a sua primeira mulher, mas é a primeira em casa. Na casa vazia, no filme convidativo, na sua vontade, na vontade dela.

De repente a campainha, sim, ela chegou. Atender, não atender. Está quase pedindo socorro. E ela lá, parada no portão.

Continua parada.

Se ele a observasse da janela da sala, notaria que não é o único ansioso ali: Ela não para um minuto de mexer no cabelo, estala os dedos, coloca a mão no bolso, pega o celular, devolve-o.

Seria impossível deixar de notar o quanto está linda. Os sapatos, a calça, o cinto, a blusa, a jaqueta jeans. O colar, os brincos e os cabelos. Um conjunto em perfeita harmonia, nunca tinha a visto assim. Ai, ai. E se continuasse observando, ainda com mais calma e atenção, pararia em seus olhos e no brilho que eles emitiam. Nunca brilharam tanto.

Foram os 30 segundos mais longos da vida dos dois.

Abre a porta com cuidado. Chega ate o portão, e é recepcionado com um sorriso – nervoso, tímido, inseguro, mas – lindo. Ele o retribui da mesma maneira, quase que o mesmo sorriso, e lhe dá um selinho.

Entram pela sala a fora. Ela observa a tudo, só que não consegue se atentar a nenhum detalhe. As mãos frias, o estômago com borboletas e coração pulsando de alegria.

Eles se olham de novo. Ela não sabe se senta no sofá, se fica de pé ou se sai correndo pela mesma porta que entrou. Ele resolve então conduzi-la ao seu quarto. E o frio – o da barriga – aumenta, e a chama da paixão o acompanha.

Ela nunca se sentira assim antes. Meu Deus, sozinha, na casa dele, será? Interrompendo os pensamentos da moça, ele a ofereça algo para comer e logo depois alguma coisa para beber. Claro, ela recusa. Não estão ali para isso. Seria tão mais simples.

O filme da TV já não o agrada mais. Alugou um outro na locadora, mesmo sem a intenção de assisti-lo. Sabia a preferência dela, e fez para agradá-la.

Filme no DVD, a cama, os dois. E nenhuma palavra, eles apenas se olham.

Os beijos são intensos, acelerados. Talvez estejam seguindo o ritmo do coração, talvez se deixando levar pelo fogo do desejo. E já não querem mais saber de nada. Televisão, DVD, Filme. Calças, blusas ou jaquetas. O frio lá de fora já não cabe ali, entre os dois corpos. Ela, ele. Ele, ela.

Estão ali, cobertos um pelo outros, protegidos de tudo e de todos. Expostos somente a eles. São apenas algumas horas, aquelas que poderiam tornar-se eternas, para sete anos de espera. O desejo sucumbido, a paixão escondida, os sentimentos negados, todos juntos, em dose dupla, e de uma única vez.

Irreal. Mágico. Perfeito. O amor, o desejo, a carne, o carinho, a compreensão, o tesão. Tudo ali, perante os dois, em tão pouco tempo. Em tão muito tempo. Era muito bom. E mesmo assim poucas palavras foram pronunciadas, mas, os olhares, as caricias e os beijos diziam-os mais, bem mais, do que qualquer palavra seria capaz de expressar. O momento expressava-se por si só.

Os dois ali, lado a lado, ofegantes e risonhos. Ele acariciava o seu rosto, enquanto ela retribuía com cafuné. Sem querer, o ‘pequeno-grande-menino’, deixa escapar junto a um suspiro, um leve risinho. Questionado, ele diz que não foi nada. Ela sorri então satisfeita, e logo tem que responder também o motivo. Claro, o mais simples de todos: felicidade. Quando estamos felizes sorrimos, não?

Nesta hora, ele consegue notar o brilho em seu olhar e beija-a os olhos, depois o nariz, a bochecha, até chegar aos lábios novamente.

A ‘pequena-grande-menina’, que já resistiu durante muito tempo, que já se policiou diversas vezes, dessa vez não faz mais esforço nenhum. A sua boca acha fácil aos ouvidos dele, e quase que sozinha, num sussurro ela diz: “Eu amo você”.

Ele não só ouve, como sente também, cada letra entrar em seu corpo. E-U-A-M-O-V-O-C-Ê. Lentamente, letra por letra. Não a responde, afasta seu rosto, mais uma vez olha em seus olhos, beija a sua boca e a abraça forte. Fazendo o corpo dizer o que a boca não deixou.

E por mais incrível que pareça, ela o entendeu. As palavras nunca fizeram parte da gente mesmo. Para que falar quando se pode mostrar? Preferes atos ou palavras? De forma inconsciente, ela conseguiu assimilar tudo aquilo, que só lhe faria total sentindo durante o caminho de volta para casa.

O filme acabou, está subindo os créditos, a moça está cantando. Infelizmente, é hora de ir para casa. Os beijos não cessam, nem enquanto ela se arruma. Quase nem nota que perdeu os brincos, só sentiu falta mesmo quando estava arrumando o cabelo. Pretende voltar mais vezes logo, o brinco se acha depois.

Ele quer que ela volte, ela quer voltar. Seguem em direção a porta, ele a conduz pela cintura, ela se despede da sala com o olhar. Antes de sair, o ultimo beijo, a promessa de replay.

Ela vai-se em alguns momentos, antes de chegar ao portão olha para trás, balança a cabeça e sai.

Ainda lá fora, fica parada de costas para o portão. Lá dentro, ele de costas para a porta.

Os dois sorriem.

5 comentários:

Laís Mendes disse...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaah...
Que texto mais lindo!!!!
Valeu completamente cada segundo gasto pra ler, a música desligada pra concentrar e o aperto no peito que veio depois.

Me fez pensar mil coisas, imaginar as cenas e querer algo tão lindo pra mim. Texto muito intenso e apaixonante!
Parabéns!!!

Bjus

SiL disse...

Pq eu acho q num tenho nada a declarar!!!

Aliás, tenho sim...
TEXTO PERFO!
Parabéns!!!

Amoooooo demais!
Bjooooooooooos!!!

Anônimo disse...

Sem comentários!!!
Perfeito?
Divino?
Arraso?
Maravilhoso?

Seriam inumeras palavras pra descrever o q acabei de ler!!!

Parabéns amore!!!
Arrasando como sempre!!!

Amo mtão!!!
Beijinhos

Unknown disse...

Mew, sem duvidas, um dos melhores ever, muito perfeito, não dava nada pra ele no inicio, to surpreso, maravilhado, apaixonado.
Parabens, amei!
Amooooooooooooooo

Zúnica disse...

Gabi, acho que você é a menina mais apaixonada que eu já conheci!

Lindo texto.